A Crise Orgânica do Capital e a relevância estratégica da América Latina

Autores

  • Julia Bevilaqua CEPPES
  • Aluisio Pampolha Bevilaqua CEPPES e NEA/INEST-UFF
  • Camila Queiroz Milani

DOI:

https://doi.org/10.54025/clc.v7i10.130

Palavras-chave:

Crise Orgânica do Capital, Crise Ambiental, América Latina, Geopolítica, Integração latino-americana, Biotecnologia

Resumo

O presente trabalho é parte de um projeto de pesquisa coletivo, que ainda está em andamento, e busca compreender a atual conjuntura mundial para identificar o papel que a América Latina pode desempenhar na mesma, considerando suas características historicamente determinadas e as principais tendências a reger este seu movimento histórico na atualidade, conectadas a esta compreensão mais ampla do movimento da geopolítica mundial, no momento de plena manifestação e acirramento da Crise Orgânica do Capital. Vivemos hoje claramente uma transformação na geopolítica mundial. A denominada Ordem Unipolar já dá sinais evidentes de desmonoramento, com outros atores protagonistas no questionamento e na ruptura de fato da hegemonia dos Estados Unidos da América (EUA). Esta transformação é movida, em sua essência, pela contradição essencial ao interior do modo de produção capitalista, cuja dinâmica é explicada pela tese da Crise Orgânica do Capital . Esta, por sua vez, expressa-se também como Crise Climática ou Crise Ambiental, contradição que pôe em risco a própria existência da espécie humana no planeta. Nesta perspectiva, em que se evidenciam as interdeterminações causais entre o fim da ordem unipolar hegemonizada pelos EUA e a Crise Ambiental que paira como Espada de Dâmocles sobre a humanidade, é necessário pensar a América Latina em seu duplo status como importante base de sustentação à hegemonia estadunidense e palcos de lutas e vitórias rumo ao socialismo; bem como maior reserva de biodiversidade no planeta, de recursos naturais estratégicos à transição energética e ao capitalismo verde, e de recursos humanos dotados de conhecimento histórico para exploração, preservação e manutenção destas reservas, cujos países são economias de média e até baixa composição orgânica de capital, o que ainda permite desenvolvimento e aplicação de muita ciência e tecnologia na produção, com retornos acima da média dos países centrais do capitalismo. O presente trabalho parte da hipótese de que a atual conjuntura de Crise Orgânica do Capital e de ruptura da ordem unipolar hegemonizada pelos Estados Unidos conduz a América Latina a uma posição estratégica na geopolítica mundial, reunindo condições historicamente únicas que nos permitem resgatar a proposta de nossos próceres de uma federação de repúblicas soberanas e unidas, plurinacionais e multiétnicas, cuja gestão é compartilhada com base no interesse comum e no respeito mútuo. A incapacidade da OTAN se sobrepor à Rússia na Guerra da Ucrânia – apesar de investimentos recordes dos países do Atlântico Norte para armamento bélico, inteligência e campanhas midiáticas – significa que a Rússia rompeu com o poderio militar da OTAN hegemonizado pelos EUA. A China converteu-se este ano na primeira economia mundial em termos absolutos, e continua sendo um dos países que mais cresce economicamente, anunciando a ruptura econômica da hegemonia estadunidense. As duas potências trazem para o teatro mundial uma proposta de hegemonia compartilhada, sob uma nova ordem multipolar e multilateral, que tem nos BRICS seu protagonista. Neste processo de transição na hegemonia mundial, abre-se à América Latina a possibilidade de forjar sua unidade em torno da maior reserva de biodiversidade do mundo, transformando este recurso natural em arma geopolítica como fez a OPEP nas décads de 1960 e 70. Para os povos do continente apresenta-se a oportunidade de dar um salto de qualidade em seu duplo status, deixando de ser mera base de sustentação para um modo de produção decadente para atuar como protagonista na transição a uma nova ordem mundial multipolar, de hegemonia compartilhada, e contribuir para a garantia da nossa sobrevivência perante a Crise Ambiental que ameaça a espécie humana, e para a transição a um futuro melhor.

Biografia do Autor

Aluisio Pampolha Bevilaqua, CEPPES e NEA/INEST-UFF

Doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) com Pós-Doutorado pelo Programa de Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPFH-UERJ). Atualmente, está desenvolvendo seu segundo estágio pós-doutoral no Programa de Estudos Estratégicos da Defesa e Segurança (PPGEST) do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (INEST-UFF), onde também é pesquisador associado sênior no Núcleo de Estudos Avançados (NEA). Mestre em Educação pela UFC. Graduado em Ciências Sociais com Licenciatura Plena (1992) e Bacharelado (1995) pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Presidente do Centro de Educação Popular e Pesquisas Econômicas e Sociais (CEPPES), onde também atua como Diretor de Pesquisa e Professor. Líder do Grupo de Trabalho e Pesquisa do CEPPES/CNPq em Educação, Trabalho, Economia Global e Sustentabilidade (ETEGS). Editor-Chefe e Membro do Conselho Editorial do Jornal INVERTA. Membro do Conselho Editorial da Revista Ciência Luta de Classes. Foi membro do Conselho (2013-2020) da Rede e Cátedra da UNESCO em Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (REGGEN) e Coordenador (2013-2017) de sua Subsede Regional Nordeste. Autor de vários livros, entre estes, Alterações Climáticas e Globalização Neoliberal (2023), Crise na Ásia, o Tufão e a Muralha de Papel: contribuição para uma análise marxista da crise (1998); Inverta: 10 anos da nova Voz Operária I e II (2001 e 2021); A Crise do Capital em Marx e suas Implicações nos Paradigmas da Educação: uma Contribuição ao repensar pedagógico no Século XXI (2011); e Crise Orgânica do Capital: o valor, a ciência e a educação (2017). Organizador e co-autor de diversas obras como o livro O Paradigma da Economia Global e Desenvolvimento Sustentável para a Formação Docente e Discente em Educação (2016) e Perspectivas para Conjuntura de Crise Orgânica do Capital: Nacional e Internacional (2020), entre outras. Professor e palestrante com larga experiência nacional e internacional nas áreas de Educação, Teoria do Estado, Economia Política, Sociologia do Trabalho e Teoria Marxista. Estudioso da obra magna de Marx, O Capital, desenvolveu curso de ensino-aprendizado coletivo desta obra, com mais de 30 anos de aplicação.

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Publicado

19-08-2025