A Crise Orgânica do Capital e a relevância estratégica da América Latina
DOI:
https://doi.org/10.54025/clc.v7i10.130Palavras-chave:
Crise Orgânica do Capital, Crise Ambiental, América Latina, Geopolítica, Integração latino-americana, BiotecnologiaResumo
O presente trabalho é parte de um projeto de pesquisa coletivo, que ainda está em andamento, e busca compreender a atual conjuntura mundial para identificar o papel que a América Latina pode desempenhar na mesma, considerando suas características historicamente determinadas e as principais tendências a reger este seu movimento histórico na atualidade, conectadas a esta compreensão mais ampla do movimento da geopolítica mundial, no momento de plena manifestação e acirramento da Crise Orgânica do Capital. Vivemos hoje claramente uma transformação na geopolítica mundial. A denominada Ordem Unipolar já dá sinais evidentes de desmonoramento, com outros atores protagonistas no questionamento e na ruptura de fato da hegemonia dos Estados Unidos da América (EUA). Esta transformação é movida, em sua essência, pela contradição essencial ao interior do modo de produção capitalista, cuja dinâmica é explicada pela tese da Crise Orgânica do Capital . Esta, por sua vez, expressa-se também como Crise Climática ou Crise Ambiental, contradição que pôe em risco a própria existência da espécie humana no planeta. Nesta perspectiva, em que se evidenciam as interdeterminações causais entre o fim da ordem unipolar hegemonizada pelos EUA e a Crise Ambiental que paira como Espada de Dâmocles sobre a humanidade, é necessário pensar a América Latina em seu duplo status como importante base de sustentação à hegemonia estadunidense e palcos de lutas e vitórias rumo ao socialismo; bem como maior reserva de biodiversidade no planeta, de recursos naturais estratégicos à transição energética e ao capitalismo verde, e de recursos humanos dotados de conhecimento histórico para exploração, preservação e manutenção destas reservas, cujos países são economias de média e até baixa composição orgânica de capital, o que ainda permite desenvolvimento e aplicação de muita ciência e tecnologia na produção, com retornos acima da média dos países centrais do capitalismo. O presente trabalho parte da hipótese de que a atual conjuntura de Crise Orgânica do Capital e de ruptura da ordem unipolar hegemonizada pelos Estados Unidos conduz a América Latina a uma posição estratégica na geopolítica mundial, reunindo condições historicamente únicas que nos permitem resgatar a proposta de nossos próceres de uma federação de repúblicas soberanas e unidas, plurinacionais e multiétnicas, cuja gestão é compartilhada com base no interesse comum e no respeito mútuo. A incapacidade da OTAN se sobrepor à Rússia na Guerra da Ucrânia – apesar de investimentos recordes dos países do Atlântico Norte para armamento bélico, inteligência e campanhas midiáticas – significa que a Rússia rompeu com o poderio militar da OTAN hegemonizado pelos EUA. A China converteu-se este ano na primeira economia mundial em termos absolutos, e continua sendo um dos países que mais cresce economicamente, anunciando a ruptura econômica da hegemonia estadunidense. As duas potências trazem para o teatro mundial uma proposta de hegemonia compartilhada, sob uma nova ordem multipolar e multilateral, que tem nos BRICS seu protagonista. Neste processo de transição na hegemonia mundial, abre-se à América Latina a possibilidade de forjar sua unidade em torno da maior reserva de biodiversidade do mundo, transformando este recurso natural em arma geopolítica como fez a OPEP nas décads de 1960 e 70. Para os povos do continente apresenta-se a oportunidade de dar um salto de qualidade em seu duplo status, deixando de ser mera base de sustentação para um modo de produção decadente para atuar como protagonista na transição a uma nova ordem mundial multipolar, de hegemonia compartilhada, e contribuir para a garantia da nossa sobrevivência perante a Crise Ambiental que ameaça a espécie humana, e para a transição a um futuro melhor.
Referências
BEVILAQUA, Aluisio P. Reacender a Chama: Teses sobre a Revolução Brasileira. Rio de Janeiro: Inverta, 1996.
______. Crise Orgânica do Capital: o valor, a ciência e a educação. Tese de Doutorado defendida na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará em agosto de 2015. Disponível em: http://repositorio.ufc.br/handle/riufc/13217. Último acesso 30/09/24.4
______. Crise Orgânica do Capital: o valor, a ciência e a educação. V. 1. Rio de Janeiro: Inverta; Fortaleza: Edições UFC. 2017.
______. Perspectivas para a luta contra o neoliberalismo no Brasil sob a conjuntura de Crise Orgânica do Capital. In: Perspectivas para conjuntura de Crise Orgânica do Capital: nacional e interancional. Edição Impressa. Rio de Janeiro, Inverta. 2020a.
______.A Crise Orgânica do Capital, a nova geopolítica e o Brasil: ou a independência da independência.Revista Ciência & Luta de Classes, v.6, n.9. 30 de outubro, 2023. disponível em: https://revistaclc.ceppes.org.br/online/article/view/111/122. Último acesso 30/09/24.
BEVILAQUA, Julia M. P. Luta contra o neoliberalismo na conjuntura internacional de Crise Orgânica do Capital. In: Perspectivas para conjuntura de Crise Orgânica do Capital: nacional e interancional. Edição Impressa. Rio de Janeiro: Inverta, 2020b.
CONABIO, Comisión Nacional para el Conocimiento y Uso de la Biodiversidad. México Biodiverso. Site ‘Biodiversidad Mexicana’/ seção ‘País’. Disponível em: https://www.biodiversidad.gob.mx/pais/quees. Último acesso 30/09/24.
RIBEIRO, Darcy. América Latina: a Pátria Grande. 3a ed. São Paulo: Global, 2017.
SIPRI. Stockholm International Peace Research Institute. World military expenditure reaches new record high as European spendind surges. Release sobre publicação do anuário SIPRI 2023 sobre gastos militares no mundo. Disponível em: https://www.sipri.org/media/press-release/2023/world-military-expenditure-reaches-new-record-high-european-spending-surges. Último acesso 30/09/24.